domingo, 3 de novembro de 2013

A donzela e o operário

Todo dia, às sete em ponto
Ela atravessava a rua
Salto alto e costa nua
Para o infalível encontro


Do outro lado, na construção
Ele descia dos andaimes
Membros em dores infames
Olhar atento à aparição

Raramente ela notava
Qualquer coisa ao ser redor
Ainda mais sob o suor
Enquanto, ausente, caminhava

Ele, nada deixa escapar
Nem gingado, nem perfume
Hipnotizado como de costume
Esquecia-se de respirar

Certa noite, desamparada
Ao passar pela avenida
A donzela distraída
Caiu numa emboscada

O operário transtornado
De paixões ardendo dentro
Perdeu de si o centro
E mostrou-se deturpado

Por mais alto que gritasse
Por mais que se debatesse
Presa do alheio interesse
Não surgiu quem lhe salvasse

Depois do gozo satisfeito
Vestiu-se o depravado
Desculpou-se educado:
- Madame, com todo o respeito...

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