Quando cheguei,
a porta estava apenas encostada. Havia ligado, mas não atendera nenhuma das 15
ligações. A casa estava silenciosa, logo ao entrar, encontrei com o colega com
quem dividia o aluguel. Saia para o trabalho. Perguntei por ele. Disse não
saber, há dois dias não o via. Olhei para a porta do quarto dele, estava
fechada. Jamais a vira fechada e notei, pela primeira vez, que a tinha azul
descascava um pouco no canto. Será que não está dormindo, perguntei. O colega deu
de ombros, e comentou que estava atrasado para o serviço. Já era quase meio
dia. Eu também estava atrasado para o serviço. Abri então a porta azul do
quarto dele, que nunca estivera fechada. Ele está aqui! Exclamei, aliviado.
Chamei pelo seu nome, várias vezes, não queria acordar. Sentei ao lado dele na
cama e toquei no seu ombro. Estava mais desmaiado que dormindo. Perguntei ao
colega que dividia o aluguel se sabia dizer há quanto tempo ele dormia. Não
sei, não o vejo há uns dois dias, eu acho, disse novamente. Estou atrasado para
o serviço, tenho que ir. Se ele ainda estiver dormindo quando você sair,
tranque a casa e deixe a chave na caixinha do correio. OK, respondi.
O
corpo dele estava mole, pesado. Chamei pelo seu nome mais algumas vezes, e
nada. Levantei-me da cama e comecei a caminhar pela casa a procura de
respostas. Fui direto para a cozinha
apertada. Olhei sobre a mesa, e tudo parecia normal. Apenas o pequeno pé-de-pimenta
no centro da mesa não parecia ter sido regado há muito tempo. Abri a geladeira,
servi-me de um copo de água. Bebi vagarosamente, tentando ficar calmo. Ao
devolver o copo à bandeja que ficava sobre a geladeira, encontrei uma caixa de
remédios. Sabia que ele estava tomando aquilo para o seu problema de calvície
precoce. Mas a caixa estava vazia, exceto pelo papel de contraindicações
dobrado infinitas vezes. Uma ideia começava a tomar forma na minha mente.
Entrei no banheiro logo ao lado da cozinha e lancei um olhar para a lixeira.
Apenas papel sujo. Será que o colega poderia ter trocado o lixo nos dois
últimos dias? Duvidei. No quarto dele, encontrei outra lixeira. Dentro dela
havia um papel dobrado, não amassado. Peguei e abri. Era uma carta.
Uma
triste carta de despedida. Não consegui lê-la palavra por palavra. Apenas
passei os olhos e notei que cada parágrafo citava um nome diferente de alguém. O
nome de uma falsa prima, o nome do ex-namorado, do melhor amigo (fiquei feliz
por encontrar meu nome na carta) e por fim, o nome de sua mãe. Li o que ele escreveu para mim. Agradecia
pelos anos de amizade e pedia desculpas por não ter sido melhor, também
declarava seu amor eterno por mim. Senti que ia chorar.
Deixei
a carta de lado. Olhei novamente para a lixeira e lá estava o que eu procurava.
Duas cartelas de comprimidos completamente vazias. Peguei uma das cartelas e
enfiei no bolso. Pulei sobre a cama e virei meu amigo de frente. Tentei abrir-lhe
o olho, estava opaco e voltado para cima. Aproximei o ouvido da sua boca e
constatei que ainda respirava. Sacudi-o violentamente. Gritei seu nome.
Acordou. Mole. Pesado. Fiz com que se levantasse e arrastei-o para o banheiro.
Joguei água no seu rosto, e ele não se manifestou contra. Apenas deixava que eu
o movesse como se fosse uma marionete sem vida. Tentei falar com ele, mas
parecia estar sonhando. Consegue andar,
perguntei. Ele pareceu responder-me afirmativamente. Apoie-se no meu ombro, vou
te levar par ao carro.
Carreguei-o
para fora e o deitei no banco traseiro. A rua estava deserta. Voltei para
trancar as portas, mas não deixei a chave na caixinha dos correios. Tente não
vomitar aí dentro, OK! Brinquei com ele. Ele ensaiou um sorriso amarelo e eu dirigi
o mais rápido que pude para o hospital.
(Baseado em uma história real)
Pedro Paiva
“IX CONCURSO PLÍNIO MOTTA DE POESIAS”
ResponderExcluirA Academia Machadense de Letras (Machado-MG / Brasil) comunica a realização em novembro de 2013 de seu IX Concurso de Poesias. As inscrições encerram-se no dia 14 de outubro (2013). Para receber gratuitamente o regulamento em arquivo PDF, entre outras informações, favor entrar em contato através do e-mail: machadocultural@gmail.com
Obs (PS): O tema é livre e aberto a todos de Língua Portuguesa e Espanhola e a taxa de inscrição é de R$5,00
Favor verificar o recebimento do regulamento em pdf e jpeg.