O Brasil está passando por um
momento decisivo no seu sistema educacional, estamos à beira de um grande
colapso que não pode ser evitado, mas que dará novos rumos para a educação, e
este caos poderá ser a sua salvação.
Nunca,
no país, o salário dos professores da rede pública esteve nesse patamar que
temos hoje, sempre esteve muito abaixo, as escolas nunca foram, em sua maioria,
tão bem estruturadas, nunca se destinou tantos recursos para educação como
agora, no entanto, o nível de insatisfação é extraordinariamente superior e
cresce exponencialmente, se compararmos, por exemplo, com o início do século
XX, quando as escolas normais estavam lotadas de futuros professores.
O que a
profissão de professor perdeu, ao longo deste meio milênio de Brasil, foi algo
muito além da nossa compreensão individual. O professorado perdeu o seu
prestígio. Hoje, qualquer outra
profissão de nível superior tem mais prestígio que a de professor. Esta questão
vai além dos baixos salários e das condições de trabalho. Está mais ligada com
o que o senso comum estabeleceu como sendo característico do professor. A ideia
de que nenhum professor está satisfeito com o seu trabalho. A ideia de que os
professores não possuem uma formação adequada. A ideia de que a escolha desta
profissão é vista como última opção, bem como a permanência nela.
Percebe-se, de modo geral, que os melhores
profissionais não permanecem na educação por muito tempo, pelo menos não na
educação básica. Há sempre uma tendência desses profissionais, bem capacitados,
de migrarem para outras áreas mais rentáveis ou mais bem vistas socialmente, ou
pelo menos para o ensino superior.
Se fizermos
uma pesquisa com os graduandos de qualquer curso de licenciatura e perguntarmos
se pretendem fazer carreira e se estabelecer profissionalmente no ensino
básico, a resposta da grande maioria certamente será: Não. No entanto, é para
onde acabam indo, com o dobro de frustração.
Mas
este momento é um importante passo para a transformação da educação no Brasil.
O colapso que estou prevendo já deu os seus primeiros sinais de vida e logo,
logo, causará grande alvoroço. Mas isso faz parte do processo de regeneração e
não devemos nos desesperar. É preciso que o sistema de desconstrua quase que
por inteiro para poder se reconstruir de uma outra forma, uma nova forma, que
eu chamaria sustentável. Isso não acontecerá de uma hora para outra, poderá
levar anos, décadas, irá depender do senso de criticidade e administração dos
nossos governantes.
A partir
de agora vou relatar uma teoria sobre a forma como eu acredito que esse
processo se dará.
Já
estamos percebendo que cada vez menos jovens manifestam interesse pela área da
docência. Os cursos de licenciatura estão praticamente falidos. Espero que isso
realmente aconteça. A falta de profissionais na área vai gerar uma grande
carência no mercado. Nas escolas, os professores que restarem, farão turnos
dobrados para suprir a demanda. As reclamações virão e as medidas drásticas
também.
A
carência de profissionais irá exigir do governo um plano de incentivo para
atrair os professores. Como o que estamos vendo acontecer com os médicos do
Brasil, o processo não será muito diferente. Então esperemos que o capitalismo
faça o que faz de melhor, influencie fortemente as decisões das pessoas e
provoque grandes mudanças sociais. Sobem-se os salários oferecidos para os
professores, diminui-se a carga horária trabalhada, sobe-se o nível de
competência exigida para o cargo.
Quando
o salário é bom e as condições melhores, a concorrência por um cargo automaticamente
aumenta. Na luta pela sobrevivência a lei da natureza prevalece, então vencem
os mais fortes. Neste caso, os mais bem capacitados. A educação deixa de ser um
espaço de despejo de maus profissionais e vira um lugar concorrido, onde os bons
profissionais desejarão estar. Um bom salário, uma carga horária justa, uma
estabilidade conquistada por meio de concurso público e um bom plano de
carreira, impulsionará a profissão de professor para o Top 5 da lista de melhores empregos.
Mais jovens
quererão entrar para os cursos de licenciatura nas Universidades, a concorrência
exigirá mais preparação para os vestibulares. Os professores nas escolas
públicas de ensino básico serão os melhores do mercado. Os velhos fósseis da educação terão que se
renovar, ou serão desligados do sistema, sem dó nem piedade (um mérito inteiramente
capitalista). E uma coisa impulsionará a outra até que estejamos inteiramente estabilizados
e satisfeitos com um nível de educação superior a que tempos hoje.
Não
temos como ter certeza de que tudo acontecerá exatamente desta forma, mas eu
estou tranquilo quanto ao caos na educação, pois é no caos que nascem as ideias
mais brilhantes (para citar um cientista famoso). Para crescer, como as outras profissões têm
crescido nos últimos anos, a educação necessitará se render aos encantos do
capitalismo, pois, infelizmente, é a uma das poucas coisas que consegue
alcanças todo o tipo de profissional. Ninguém está mais disposto a morrer de fome
por amor a profissão, esta tática de dominação intelectual não funciona mais no
mundo pós-internet. É necessário dar ao profissional valorização, e valorização
em forma de moeda, que é o maior símbolo de poder que conhecemos hoje.
Conhecimento
traz poder, mas na selva capitalista em que vivemos, é necessário que traga
dinheiro também.
P. H. G. Paiva
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